terça-feira, 19 de abril de 2016

EU NÃO SOU A DECORADORA...

No último dia 12 de Abril o New York Times publicou uma reportagem com arquitetas falando a respeito das diferenças de gênero e raça na prática profissional e como elas se sentem no exercício da profissão. 

E você: como se sente na prática da arquitetura?


"I Am Not the Decorator:Female Architects Speak Out"
Yen Ha, a principal at Front Studio Architects.
CreditBenjamin Norman for The New York Times



Um estudo sobre a diversidade na profissão, lançado este ano pelo Instituto Americano de Arquitetos, AIA, descobriu que "as mulheres nos Estados Unidos acreditam fortemente que não há igualdade de gênero na indústria"; que as mulheres e as minorias dizem que são menos susceptíveis de serem promovidas a cargos mais altos; e que gênero e raça são obstáculos para a igualdade de remuneração para os cargos comparáveis.

Zaha Hadid costumava dizer que "para uma mulher sair sozinha na arquitetura ainda é muito, muito difícil, pois ainda é um mundo de homens. Mesmo que Zaha não quisesse servir como um símbolo de progresso para as mulheres em sua profissão, ela inevitavelmente o fez.

Yen Ha, arquiteta de New York diz enfrentar obstáculos todos os dias, pois o campo da arquitetura é branco e dominado pelos homens, e ver uma mulher no local de trabalho ou em uma grande reunião com os desenvolvedores não é tão comum. Ela diz ter que lembrar alguém todos os dias que ela é de fato a arquiteta. Cada novo local de trabalho significa que um empreiteiro irá supor que ela é a assistente, decoradora ou estagiária. Geralmente é apenas na terceira reunião que a equipe do projeto apresentará as respostas para os problemas de arquitetura.

HJ Kim diz que os empreiteiros que têm menos oportunidades de trabalhar com arquitetas e mulheres designers, parecem pensar que a classe nem sequer sabe como trocar uma lâmpada e que o único papel é decorar interiores. "Muitos chegam a ficar surpresos quando dou soluções para problemas na obra".

Amanda McNally de North Palm Beach, na Flórida, diz que há sempre aquele momento quando ela chega em uma nova construção e para alguns ela parece ser uma intrusa chegando ao clube dos homens. Mas isso logo passa após ela tratá-los com respeito, afinal eles irão executar o projeto e ela sempre pode aprender algo com eles. Ao mesmo tempo, ela pensa que o fato de ser mulher tem algumas vantagens, certos clientes sentem-se mais confortáveis trabalhando com uma mulher durante o processo de design.
Confira a reportagem da entrevista do New York Times AQUI


Já no Brasil, como será que as arquitetas se sentem na prática da profissão? Será que vivenciam o mesmo cenário descrito pelas profissionais dos Estados Unidos?

De acordo com um artigo publicado pela revista AU, o cenário vivenciado pelas arquitetas Brasileiras no que concerne as diferenças de gênero se assemelha ao descrito nos Estados Unidos, pelo menos para algumas das entrevistadas.

A arquiteta Monica Drucker, sócia do escritório Drucker Arquitetura, diz ter tido dificuldade no começo em firmar sua credibilidade e ter problemas na hora do pagamento: Monica Drucker conta que diversas vezes não recebeu o valor acertado, e que tinha dificuldades de fazer a cobrança. "Os clientes negociam mais seriamente com um rapaz porque ainda existe machismo, por incrível que pareça”.

A arquiteta Solange Martinhão acompanha de perto seus projetos, diz que não era fácil lidar com empreiteiros, pedreiros e mestres de obras. "Havia preconceito no começo", diz. Com o tempo, adquiriu segurança e, sempre que necessário, não se intimida ao exigir: "vai desmanchar e fazer de novo".

Já a arquiteta Valeska Peres Pinto a primeira mulher a presidir a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), em 1989, afirma “nunca ter tido problemas com os colegas e pensa que essa nova realidade no ambiente profissional tem se desenvolvido de forma natural”.

E quando perguntadas pela escolha da área de atuação e se a mulher tende a optar por atividades mais leves, Valeska reconhece "que o ambiente de trabalho no canteiro de obras é duro e que muitas arquitetas preferem ficar distantes, mas acha isso uma bobagem".

Débora Follador, arquiteta e urbanista da Ambiens Sociedade Cooperativa, formada pela PUC-PR em 2008, acredita, porém, que não existe relação entre o gênero e a atividade, e que a escolha da área de atuação é de caráter muito pessoal: "Tenho muitas amigas que estão trabalhando em edificações", explica.
Confira a reportagem da revista AU AQUI


Essa divergência de opiniões sobre a prática da arquitetura no que concerne as diferenças de gênero, pode acontecer pelo fato das arquitetas Brasileiras estarem em maior número quando comparado com os Estados Unidos e até Inglaterra. De acordo com uma reportagem exibida pelo Conselho de Arquitetura, CAU, as mulheres representam 61% do total de profissionais em atividade no país, contra 39% de homens. Segundo eles, essa é uma tendência que vem crescendo ao longo das últimas décadas. Nos Estados Unidos, apenas 18% dos arquitetos registrados são mulheres. Na Inglaterra, a proporção é semelhante: 20%. 
Confira a reportagem AQUI


Talvez o fato da arquitetura brasileira contar com um grande número de mulheres na profissão atualmente, nos torne mais confiantes e menos intimidadas pelo mundo masculino. Ou também, os homens que estão acostumados a nos ver com mais frequência nos canteiros de obra não nos vejam como seres estranhos e nem achem que somos a decoradora com tanta constância.

Mas já que estamos aqui coletando relatos não podemos deixar de dar o nosso. Não diríamos que nossa experiência profissional tenha vivenciado tantas situações desconfortáveis pelo fato de sermos mulheres. Às vezes, de forma sutil, observamos uma desconfiança no primeiro contato com alguns empreiteiros e pedreiros, mas esse sentimento logo se desfaz. Também, não encontramos problemas na hora de receber de nossos clientes e não achamos que eles tratem esse assunto com menos seriedade porque somos mulheres.

De qualquer forma, ainda que possamos observar diferentes posicionamentos quanto as diferenças de gênero na prática da arquitetura, existe um quesito no qual todas as arquitetas concordam: o fato de que a produção arquitetônica feminina no mundo não tem seu devido reconhecimento, sendo pequena a lista de arquitetas ilustres quando comparada à de homens.

Foi esse cenário que incentivou um grupo de jovens arquitetas em Brasília a criar o projeto ARQUITETAS INVISIVEIS. Não poderíamos deixar de mencionar o trabalho dessas profissionais que possuem uma bonita trajetória e produzem a revista Arquitetas Invisíveis com o objetivo de valorizar e dar visibilidade a produção arquitetônica feminina assim como promover a igualdade de gênero dentro do âmbito da arquitetura e urbanismo.

Mas e você, cara arquiteta, como se sente no seu ambiente de trabalho?







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